Dança e música ao vivo inspirado em Chiquinha Gonzaga no saguão principal da Estação da Luz, no centro de São Paulo
A Cia. Damas em Trânsito e os Bucaneiros
vai ocupar o saguão principal da Estação da Luz, no centro de São Paulo, com
dança e música ao vivo. Inspirado em Chiquinha Gonzaga , Duas Memórias terá oito
apresentações gratuitas em maio, dias 3, 4, 8, 10, 11, 15, 17 e 18 (terças,
quintas e sextas), às 13h.
“Nesta dança de ocupação, o espaço
(arquitetura, dinâmica cotidiana e memória) é o elemento fundamental para a
criação cênica em tempo real”, afirma o diretor Alex Ratton. Por meio da
improvisação, os integrantes fazem uma leitura corporal e sonora do lugar.
Os seis integrantes se espalham pelo
saguão da Estação da Luz, provocando a diluição do foco, chamando a atenção do
público para diferentes ângulos do espaço, enquanto cria imagens poéticas no
instante da cena. A proposta é levar arte por onde circula muita gente que não
costuma frequentar teatros.
Com técnicas de contato-improvisação,
dança teatro, balé clássico, kempo indiano, aikido e dança contemporânea, os
quatro intérpretes e criadores - Carolina Callegaro e Ciro Godoy
(percussionistas), Clara Gouvêa (violino) e Laila Padovan (escaleta) - tocam
enquanto dançam ao lado da bailarina convidada Larissa Salgado. A orquestração
em cena será feita pelo pianista Rafael Montorfano.
Duração: 50 minutos. Recomendação etária: livre
Algumas das peças de Chiquinha Gonzaga (final do séc. XIX e início do séc. XX) feitas originalmente para piano foram adaptadas para a formação instrumental do grupo (piano, violino, escaleta e percussão) e podem ser executadas tanto na versão original, como transformadas por meio da improvisação, linguagem pesquisada pelo grupo desde sua fundação há seis anos, no Bixiga, em São Paulo.
O figurino concebido por Iara Wisnik traz as formas das roupas da época da compositora para uma linguagem contemporânea. Mescla elementos que guiavam a moda daquele tempo e sua história, como a Belle Époque importada da Europa, as influências africanas e o Carnaval, com figurinos masculinos - calças, casacas, abotoamentos nas lapelas, gerando uma figura atual. Um dos elementos resgatados é a amarração de tecidos no cabelo, que a maestrina Chiquinha inventou em substituição a um chapéu.
“Duas Memórias” é uma continuação da pesquisa de linguagem que a cia. desenvolve desde 2006 sobre as inter-relações da dança e da música na improvisação cênica. A fim de trabalhar com a ocupação dos espaços escolhidos e a obra de Chiquinha Gonzaga, a pesquisa corporal e de movimento é baseada principalmente em duas referências: o pensamento do fenomenólogo Gaston Bachelard em seu livro “A Poética do Espaço” e “Sintonizando as Partituras” da bailarina e pesquisadora Lisa Nelson.
“O trabalho é de ocupação do espaço e de improvisação. Então a arquitetura, o fluxo natural de cada lugar com seus transeuntes e o cotidiano são partes integrantes da construção do espetáculo. Na dança, buscamos inspiração nas construções que datam da época de Chiquinha Gonzaga (1840/1930). Usamos a memória contida na Estação da Luz, que foi aberta ao público em 1901, e o que ele representa hoje”, fala Alex Ratton.
A ideia não é fazer uma releitura da obra da pianista e sim evocar a memória do espaço histórico por meio de uma musicalidade inerente a uma determinada época. Segundo Bachelard, os espaços carregam memória e sugerem sensações e imagens que podem ser captadas e vivenciadas por aqueles que o habitam. Partindo desta ideia, os intérpretes-criadores ficam abertos aos estímulos do espaço, podendo transformá-los em movimento e/ou som. As partituras propostas por Lisa Nelson dão respaldo para os intérpretes buscarem o estado de permeabilidade corporal, ampliando os sentidos e a percepção do ambiente.
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